Pergunto-me todos os dias onde falhei ao gerar filhos, não falhei no ventre, nasceram sadios, perfeitos, no tempo certo. Não falhei na amamentação, dei-lhes o peito enquanto quiseram sugar. Na alimentação lhes dei o melhor que as condições permitiam, não descuidei do almoço, não omiti o jantar, não falhei no lanche. Quanto ao vestuário, roupas limpas e bem passadas. Não sentiram frio que eu não pudesse aquecê-los, não passaram fome, não ficaram ao abandono, ao relento, ou desprotegidos. Enfrentei perigos, perdi noites de sono, deixei de preocupar apenas comigo, me doei. Deixei de comer o melhor para que o melhor fosse dado a eles.
Amor? Não tenho dúvidas de que foram amados desde o primeiro instante em que soube de sua existência, em minhas entranhas. Por nenhum segundo sequer desejei que ali não estivessem e se o tivesse feito, seria um destes deslizes da maternidade com os quais aprendemos a conviver e nos perdoar. Amei e amo como somente quem gera, pode amar. Meus atos não dizem que amo? Que atos então deveria ter, para que os mesmos falassem de amor? Quando tudo ruiu ao meu redor, me mantive sã, permaneci presente mesmo em dores e desejos de não existir. Permaneço presente mesmo quando sinto que falhei sem saber aonde e quando.
Ensinei gratidão? Ensinei honrar, amar, respeitar? Dei educação e bons modos? Parece-me que foi aqui que falhei. Ensinar palavrinhas mágicas: por favor, obrigada, me desculpe, não faz necessariamente uma pessoa grata e solidária. Não se ensinam a serem pais em escolas, e muito menos se ensina a serem filhos. Quem ensina isto afinal? Nossos pais? Aprenderam eles com seus pais? Ensinamos nossos filhos? Afinal, quem ensina quem? Não me ensinaram, não possuo este conhecimento, e também não me sinto apta a ensinar. Cobro-me, me cobram e falho nos resultados, nas cobranças, nos erros e acertos. Tenho erros, muitos erros, mas quem os julga? E que parâmetros temos por base?Tento acertar todo tempo. Penso que os anos vividos, na medida em que vão se distanciando dos anos passados, possuem uma cartilha e o dom de ensinar, será?
Devo ser uma pessoa má, egoísta, o tipo de mãe que “além de não ajudar, ainda atrapalha”, é o que ouço como se fosse uma sentença. Faço o que penso que posso, faço o que acho que é certo, faço o que minhas limitações permitem. Não sou perfeita, pior, nem razoável me considero na arte “ser mãe”. Posso mudar? Não sei dizer. Quero mudanças? Todas as que me forem possíveis. Quero trabalhar por estas mudanças? Pagar o preço do aprendizado? Ou quero apenas aceitar minhas limitações, meus entraves, minha“insolução” ante as possíveis soluções? Não sei o que realmente quero.
Quero uma mágica que faça tudo por mim, não são assim as orações? Transforma-me, enquanto sou eu, sou eu, sou eu - que não faço, que não desejo inteiramente, que responsabilizo o outro, que talvez culpe a Deus em alguns momentos insanos, e que se dane o mundo. Então, tento não falar. Tento me calar. Tento me omitir. Ou ainda, tento fazer, mudar, fingir.
Queria o silêncio de dias calmos, queria a paz de dias idos, queria a sorte de mudar. Queria sumir, sem me ausentar. Queria morrer, sem descer ao túmulo, queria permanecer presente, sem ser notada. Queria mudar. Queria mudanças. Mudar os outros.
Queria poder...
FUENTE :
http://avessamente.blogspot.com/
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